terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O Dia Dos Meus Sonhos – Parte V (Final)

Acordei num voraz sobressalto. Relembrei tudo que aconteceu. Havia sido um dia memorável, feérico. Inacreditavelmente lindo. Então, um baque estrondoso fez tudo chacoalhar. O mundo parou pra mim, eu juro. Não era capaz de distinguir sonho de realidade. Acordei sem saber se vivi ou se sonhei. Em um dia pus em prática planos que eu acreditava ser incapaz de conceber. Mas... será que de fato o fiz?

Um profundo torpor apoderava-se do meu corpo. Sentia uma estonteante alucinação, o suor escorria-me pela face. E então, de imediato, percebi a influência que um livro pode impingir. Veio à minha cabeça um trecho do livro do Dostoievsky que lia na praia, num fluxo ininterrupto e indefectível de memória:

“Num estado doentio os sonhos costumam se distinguir pelo seu extraordinário colorido e clareza e pela estranha semelhança com a realidade. Apresentam-nos às vezes um quadro maravilhoso: o cenário e todo o processo de representação são ao mesmo tempo tão verossímeis e com pormenores tão exatos e inesperados (...). Esses sonhos, sonhos doentios, ficam gravados na memória por muito tempo e produzem uma forte impressão no organismo alterado e enfraquecido do homem.”

Minha consciência abriu as cortinas. Desanuviou minhas doçuras oníricas e então eu vi tudo com clareza.

Foi um sonho. Sim, um sonho. Nada mais... Tão somente visões do que eu poderia ter transformado meu dia. Lembrei de ter contemplado a bela mulher na barraquinha de churros e recordei, também, da minha inoperância. A sua camiseta estava grifada com o nome Manoela às costas. Revi, como se fosse um filme, o meu passado recente. Há algumas horas eu sentava num banco no calçadão e assistia, sozinho, a um chato jogo de futebol entre brasileiros e argentinos, de placar zerado porque ninguém teve estrela. Porque ninguém ousou. Porque ninguém foi capaz de protagonizar. Não fui obrigado a me ater a essa esfera de coadjuvação... exercendo papel de mero expectador. Foi porque eu quis. Convidaram-me, de fato, mas eu recusei dando uma desculpa esfarrapada.

Flutuei para a minha realidade de inoperância. Antes de eu voltar a dormir e ter mais sonhos de como poderia ter sido, eu ruminei: Será que se eu tivesse simplesmente agido instintivamente, as coisas não teriam acontecido? Será que se eu pusesse uma pequena, mas certeira dose de atitude, num ato aparentemente desimportante e incapaz de definir uma subsequência de fatos relevantes, o sonho ganharia contornos reais?

Eu temo pela resposta positiva, pois sei, no fundo, que ela é a verdadeira. Tanta coisa poderia ser diferente, se fôssemos ousados para despender um ato de coragem. Um ato que, à primeira vista, parece pequeno e sem significância, mas que atua como propulsor e é capaz de definir rumos, caminhos e futuros.

Já que eu tenho a capacidade de produzir um sonho, talvez eu também possua a envergadura para levá-lo à realidade... Caso contrário, que sentido teria?

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Paraguaio

Eu precisava chegar até os Correios naquela tarde. O dia posterior era feriado, e se eu expedisse o cartão postal somente na quinta-feira, talvez – ou muito provavelmente – eu chegaria antes dele ao seu destino: Camaquã. Já que o retorno da paradisíaca Camboriú será na parte matutina do domingo, a fim de evitar engarrafamentos.

Pois bem, destinava-me até lá, quando, do nada, o céu ganhou uma tonalidade escura; um profundo gris se apoderou do que era, há poucos instantes, predominado do mais belo azul celeste. Pus-me a caminhar como caminharia o Usain Bolt, não queria correr, estava de chinelos e com o estômago forrado por uma profusão de almôndegas.

Alguns minutos depois e... começou a chover, é claro. O que eu faria? O apartamento estava longe, assim como o Correio. E, dessa vez, não estava disposto a um banho de chuva. Encontrei então uma bela e espaçosa marquise: minha salvação. Fiquei ali e os estalidos tonitruantes permaneciam. Até que foi proveitoso, contemplei uma bela paisagem: meninas molhadas, gente correndo atordoada, os incessantes pingos de chuva procurando brechas nesta verdadeira selva de pedra: asfalto pra lá, cimento pra cá...

Até que, alguém – um senhor de meia idade, depois percebi – me dava olhadelas furtivas embaixo daquela mesma marquise. Aproximou-se e então percebi que ele olhava não para mim, mas para meu relógio.

- Tiene horas, menino? – Indagou o senhor que julguei ser argentino.

- Ah sim, são 3:30 señor.

- Muchas gracias, uste es brasileño, no? Me pareció argentino...

- Sim, brasileiro. O señor és argentino... – Presumi, arriscando um defeituoso portunhol.

- No, no... paraguaio. Pra que equipo torces? – Perguntou de imediato, a fim de ser simpático e puxar conversa, arranhando um portunhol.

- Grêmio de Porto Alegre, time mais copeiro do Brasil. E o señor?

- Olympia, do Paraguai. My equipo ya eliminou Grêmio de la Libertadores. – Disse, com um sorrisinho que ficava entre escárnio e orgulho.

- Sim, nas oitavas de final, no? Mas meu time és Bi-campeon, lamento mucho. – Retruquei, à altura.

- Ah, si, es cierto... Mi hijo fez... como se chama?... intercâmbio estudantil em Porto Alegre, residia a dos cuadras del cancha del Grêmio. Le encanta la camisa Del Gremio, muy hermosa. Tiene uma inclusive.

- Muy interesante. – Disse, sem saber de que forma continuar a conversa. Que oportunamente terminou quando a chuva atenuava e o paraguaio despedia-se com um largo sorriso no rosto, desejando um bom ano e suerte.

Imitei-o e segui meu rumo, remeti o cartão-postal no correio e regressei ao apartamento. Ia junto de mim uma sensação aprazível, de bem estar... Surgiu-me, então, uma bela concepção: Nada é exclusivamente para o bem ou para o mal. O futebol, por exemplo, pode ser pretexto para a violência, ou motivo para novas relações e agradáveis diálogos. Depende, unicamente, de como o usamos.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O Dia Dos Meus Sonhos - Parte IV

Para minha mais profunda perplexidade, o mesmo homem baixo, carrancudo, de fisionomia parruda, apesar da pouca estatura, convidou-me:
- Cara, não quer jogar com a gente? Está faltando um no nosso time, nem te preocupa em jogar bem, é só pra completar a vaga...
- Ah, valeu... Mas eu estou aqui com a minha namorada e não vou...
- Pode ir, sim, Gio! – Interrompeu Manoela. – Eu não me importo, eu adoraria ver-te jogar, quero ver se você comprova na prática o que teorizou...
- É, mas eu...
- ELE ACEITOU, JÁ ESTÁ VINDO! – Bradou o homenzinho. E eu sendo interrompido pela segunda vez, nada pude fazer. Senão ir. Não tinha o que temer, não é mesmo? Afinal, quem é rei não perde a majestade.

Quando ingressei na cancha então vi com clareza o motivo pelo qual o homem tinha tanta urgência na minha presença: era Brasil x Argentina! Por várias vezes ouvi o som enrolado e fatigante do espanhol argentino naquela praia catarinense, mas não esperava por essa.
Definitivamente, não esperava.
Decidiram que eu jogaria na lateral direita, já que o lateral esquerdo argentino era fraco, sem preparo. E assim, eu não prejudicaria o time. Afinal, julgavam-nos equivalentes. Mas estavam errados: Eu era melhor. Aliás, muito melhor. Ainda mais que a única mulher que eu beijei na vida integrava a torcida.
Finalmente, depois dos minutos de espera sem sucesso pelo Carlão, começou o jogo. Foram duas metades com trinta minutos cada. Ao fim da primeira metade eu já estava exaurido, mas continuei jogando, até porque, não tinha outra escolha. O jogo todo foi parelho, o clima inicial era amistoso... mas em se tratando de Brasil x Argentina, esse clima não dura muito. Houveram insólitas cotoveladas e botinadas maldosas. Inclusive em mim. Isso me deixou exasperado, aquele cabeludinho canhoto não sabia com quem estava lidando... Apesar de tímido, eu sou irritadiço.
Eram chutes por cima da rede pra lá, chutes por cima da rede pra cá e nada. O placar mantinha-se inalterado. E eu discreto. Discretíssimo. Apenas dando bons passes e tentando algumas investidas sem sucesso ao ataque. Até que, nos minutos derradeiros no jogo, levei outra cotovelada. Desta vez eu revidaria! Era questão de honra, afinal, a Manu me assistia. Dei o troco! Mas de uma forma melhor, mais inteligente... Atirei-me no chão e pedi falta, deferida pelo juizinho gorducho.
- Eu bato! – Bradei, tirando ousadia de um compartimento que eu realmente não conhecia.
O mais marrento do nosso time, que eu olvidei o nome franziu o cenho, e de cara amarrada virou de costas. Talvez ele estivesse certo...
Eu não tinha o direito ao erro, era a chance derradeira e decisiva. Então, distanciei-me, enchi os pulmões de ar, dei uma leve olhadela para a Manu, que estava apreensiva, expectante, fechei os olhos e... GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL!!! Chutei como nunca! A bola fez uma curvinha ao lado esquerdo da barreira antes de entrar, fuzilante, no ângulo. Os brasileiros, em maior número, exultavam em gritos e palmas. Lembro de ter visto um brilho orgulhoso no olhar da Manu. Então fui até a rede, e beijei-a, para êxtase de todos ali presentes. Vieram todos me parabenizar e comemorar comigo os louros da vitória. Convidaram-me até pra comer um churrasco gaúcho em um fidalgo restaurante do centro camboriuense. Eu recusei, é claro, como bom anti-social.
Mas a noite me reservava um desfecho surpreendente... Uma revelação tão lacerante e decisiva que poria em cheque todas as minhas relevantes conquistas naquele dia tão inacreditavelmente fantástico. Jamais previ que um desenlace do tipo teria tanta influência na minha vida, nem tampouco que ele estaria tatuado, perenemente, na minha memória.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

O Dia Dos Meus Sonhos - Parte III

Não vi minha “paquera” no dia seguinte, como esperava. E sim antes, na badalada noite de Camboriú. Ao sair com minhas irmãs rejeitei a idéia de fazer compras naquele turbilhão... fui-me, então, ao meu cômodo favorito, independente do lugar, meu porto seguro: um banco. Mas será que era mesmo paquera? Ou eu estava simplesmente encantado com a novidade, e anuviei minha visão? Eu, um mero inexperiente, teria chance com aquela linda mulher? Alguns minutos depois, voei para longe dos meus devaneios ao sentir uma mãozinha delicada no meu ombro e ao ouvir aquela voz melíflua inconfundível.

Miraculosamente, era ela.

Descobri que seu nome era Manoela. Conversamos sobre a Segunda Guerra Mundial, crises globais, livros, política e uma profusão de outros assuntos. Aproximávamos-nos a cada palavra, num ritmo que rolava solto, que parecia ter sido ensaiado. E o inevitável aconteceu: beijamos-nos. Ou melhor, ela me beijou. Não fui eu quem tomou a iniciativa, inveterei-me com essa conduta. O que é, indubitavelmente, muito perigoso. Aliás, toda maneira viciosa de agir é periclitante. Enfim, de qualquer modo, senti o néctar dos Deus; Levitei; Fui ao paraíso nos seus lábios. Seu beijo era divertido, gostoso, com gosto de morango. Como foi bom sentir aquele calor, sem objeções.

Encontrava algo diferente em mim quando estava com ela. Tornar-me-ia um homem melhor ao seu lado. E então começamos a namorar. Ali, com a Lua como testemunha, prateando nossos corpos e abençoando nossa união.

Depois de decidirmos, assim, sem mais nem menos, que namoraríamos, começaram a montar uma cancha de futebol de areia bem ali, na nossa frente. Imaginei-me chutando uma bola, algo não praticado há tanto... Mas que sabia fazer muito bem. Naquele dia estava com uma camisa da seleção brasileira, que eu não gostava, mas era a única que estava limpa. Não havia trazido muitas para as nossas curtas férias de 7 dias. O ambiente se transformou rapidamente e o número de pessoas aumentava... Curiosos em relação ao evento noturno que adviria. Notei que jogadores vestidos de amarelo postavam-se de um lado da cancha e jogadores de azul celeste e branco do outro. Atinei também para o fato de esse segundo time ter um jogador a mais... Estranho, pensei com meus botões. “Não dá mesmo pra confiar no Carlão”, bradou um homem alto, de uniforme diferente, que presumi ser o goleiro. “Olha aquele cara ali, será que sabe jogar?”, disse outro, apontando na minha direção. Os refletores já estavam funcionando em perfeito estado, mesclando sua luz com os raios pungentes da Lua.

Não quis externar meu sentimento de pavor com a hipótese, cooptei, então, à tática mais acessível: ignorei. No entanto, é impossível prosseguir indiferente quando uma pessoa está à meia dúzia de passos de você.

O sujeitinho se aproximava... Aproximava...

Será que era comigo, de fato? Ou era um dos meus complexos se fazendo presente mais uma vez? Se a primeira possibilidade se revelasse verdadeira eu não saberia como agir.

Óh ceus, e agora???

O Dia Dos Meus Sonhos - Parte II

Através daqueles lindos olhos cor de mel e do louro áureo do seu cabelo, eu me encorajei. Uma princesa de biquíni, eu diria. E por estar de biquíni, a discrição da minha musa inspiradora já está pronta, sem mais detalhes. Foi assim: enquanto eu estava sentado na cadeira de praia lendo, eu percebi a presença de uma pessoa do sexo feminino a uns 5 metros de distância. Senti um frio na espinha, mesmo com todo aquele calor. Ela ouvia uma música melosa da Pitty. E me contemplava despudoradamente. Imediatamente cai em devaneios, imagine eu (eu!) com uma mulher linda daquelas. Será que ela beija bem? Tomei a decisão mais difícil da minha vida: Eu IRIA interpelá-la, de qualquer maneira.
Mas como?
Ela estava provavelmente com seus pais e eu estava ali, com minhas irmãs e seus namorados. Ó Deus, me dê uma chance. Uma brecha. Dessa vez eu prometi que não desperdiçaria qualquer ensejo.
Para minha surpresa, Deus ouviu meu afã. Só pode tê-lo sido... Ela debandava da praia. Juntamente com seus pais, mas antes de tomar seu rumo, parou, sozinha, na barraquinha de churros.
- Giovanna, Andrea, vou ali comprar um churros e já volto. – Anunciei.
- Isso, Gio, aproveita que tem uma loira estilo Drew Barrymore por lá. – Escarniou
- Estilo quem?
- Ah, esquece. Vai lá de uma vez, seu bicho do mato.
Eu fui. Mas o que dizer? Bem, sempre ouvi por aí que mulheres inteligentes gostam de caras inteligentes, garbosos, que sabem o que dizem. E ela parecia uma mulher dessa estirpe. Resolvi comentar sobre a música que ela ouvia, enquanto também pedia um churros de leite condensado com coco.
- Oi, acabo de descobrir que temos dois gostos em comum. – Disse, dando o meu melhor sorriso.
- Oi... o que você disse? – Respondeu, com uma expressão que ficava entre surpresa e interesse. Tão linda... Tão linda.
- Dois gostos em comum. Gosto de churros e também de Pitty. – Menti.
- Ah, sim... Temos três então, percebi que você estava lendo “Crime e Castigo”. Amo Filosofia. Aliás, curso Filosofia na UFRGS. E você? – Indagou, tão vistosa e brilhosa quanto o sol em seu nascente.
- Interessante, eu curso Direito, na UFPel. – Respondi, perplexo pela minha desenvoltura ao falar, e, sobretudo, por ter sido eu quem fez a abordagem e não estar sendo monossilábico.
- Humm... bacana. Ei, conhece aquelas pessoas? Acho que estão olhando pra nós. – Disse ela, um tanto encabulada.
- Sim, são minhas irmãs e meus cunhados, não ligue pra eles.
- Ah, sim. Vou indo... meus pais já estão lá na outra esquina. Legal ter conversado com você. Sempre fico por aqui, podemos conversar outras vezes. – Sugeriu.
- Ah, claro! – Exclamei, um tanto afoito. – Seria ótimo. Até amanhã?
- Me parece bom. Até amanhã, sim. – Despediu-se.
Quando ela se foi, percebi minha mão tremendo e meu coração saltitante. Peguei o churros e fiquei com medo que a moça ouvisse os meus batimentos cardíacos desesperados. Eu podia ouvi-los. Dessa vez o entrave interno não funcionou. Naquele momento eu lembro ter cogitado a idéia de que essas repressões internas só funcionam se a gente permite. E não o contrário, como acreditei durante toda minha vida.
Adentrei o apartamento absolutamente radiante, descrente da minha grandiosa façanha. Que dia havia sido aquele! Mal poderia esperar pelo promissor amanhã que me aguardava... E não precisei. Aquele dia ainda me reservava mais uma inimaginável e extravagante surpresa.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O Dia Dos Meus Sonhos - Parte I

Eu sempre fui lembrado e taxado como tímido, acabrunhado. Sempre carreguei o timbre do pusilanimismo; da prudência exacerbada. À medida que o tempo passava esta sina se acentuava, contrariando as conjeturas dos meus amigos e familiares. “Quando o Giovanni crescer esse medo e essa vergonha toda irão embora”, vaticinavam.

Pois eu cresci. E essas idiossincrasias permaneceram tatuadas na minha personalidade.

Semana passada ingressei na casa dos 20 anos. Nossa! Já tenho duas décadas de gélidas e macilentas experiências. Senti, talvez, uma meia dúzia de vezes meu coração bater mais forte durante esses anos todos. Que posso fazer se prefiro e naturalmente rume à calmaria?

Evito agitações e qualquer manobra mais radical. Sou amante da estabilidade, e da placidez do meu interior, que serve como um entrave aos frenesis que tentam enfiar-me goela à baixo. Pra mim, essa história de carpe diem é bobagem. Sou o homem de gelo, pois. No entanto, preciso confessar: esporadicamente sinto um calorzinho, sentimentos, instintos. Jamais sequer beijei efetivamente uma garota. Antes que pense bobagem, eu sou homem. De verdade. Já senti vontade, mas jamais tive a coragem necessária. Então aos poucos fui me acostumando a reprimir e preterir veleidades...

Bem, trazendo o trem de volta aos trilhos, eu sou um cara boa pinta. Inclusive me acho bonito por vezes. Tenho longos fios loiros que insistentemente recaem por sobre meus olhos claros, que apesar de serem belos, são levemente aquinhoados. É meu charme. Tenho pômulos proeminentes e rosto afilado. Mas sou introspectivo em demasia e isso me tira a chance de ser um homem normal, apesar de eu ser homem. Sou átipico, digamos. Possuo um dispositivo inerente que breca meus movimentos. Ou seja, estou sempre à espreita. Estagnado. Vegetativo. Porém, eu queria mudar. Precisava ser mais contundente. Pus em minha cabeça, que a primeira vez que me interessasse por uma mulher, faria algo.

E fiz...