domingo, 18 de setembro de 2011

Multifuncionalidade

Já se foi o tempo em que se podia ser muito bom aqui e medíocre ali. Há um emparelhamento geral. Todos sabem um pouco sobre tudo; ao invés de tudo – ou quase tudo – sobre pouco. O conhecimento moderno atravessa um processo no qual é transformado em um conchavo de superficialidade.

Tal mudança do conceito de “conhecimento” perpetrou-se pela difusão da tecnologia, com o acesso generalizado à internet. Não se lê um livro inteiro sobre Filosofia, lê-se manchetes e resumos sobre tudo. Os jovens serão, cada vez mais, adultos nivelados no futuro. Os vestibulares, por exemplo, exigem que o estudante seja multifuncional, com aptidão em Física, Matemática, Português e História. Não há distinção ou diferença de juízo àqueles que são afeitos às ciências humanas ou às ciências exatas, é preciso saber um pouco em ambas, o que impossibilita maior profundidade em uma área específica. Evidentemente que o curso superior se encarregará de tal encaminhamento. No entanto, o método de seleção me parece obsoleto.

Dir-me-á outro que as coisas estão entrelaçadas... as “matérias” da vida se completam e se unem no desenrolar da vida, imperceptivelmente. Concordo. Só que estas “coisas” se me apresentam rasas em demasia. Não vislumbro com a mesma frequência gênios ou foras de série, porque os que têm potencialidade para tal estão preocupados em ser razoáveis em todas as lides às quais são exigidos.

O cenário não poderia ser outro... Um mar de iguais.

Uma ressalva: existem, sim, exceções. Aqueles que são regulares no que não gostam e, ainda assim, conseguem ser mestres na área que apreciam. A estes, os meus aplausos.

Substituiu-se o pensamento de que “não adianta ser bom em várias atividades se não for o melhor em pelo menos uma delas”, para “o que importa é ser regular em tudo”.

Pode ser exagero, provavelmente é. Mas... Preciso desabafar: Não consigo concentrar-me nas contas de matemática com uma montanha de livros literários me chamando até eles, sussurrando em meus ouvidos que eu devo me dedicar ao que eu gosto, e ao que sou afeito... Logo depois, percebo que vaidade seria ter a pretensão de fazer apenas o que aprecio.

O segredo, portanto, é ser malandro. Não deixar-se levar pelo “sistema vigente”, mas mesmo assim, não se isolar totalmente dele. Pois o que é aceito pela maioria tem o hábito de excluir o que é destoante.

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