terça-feira, 23 de novembro de 2010

Mulheres

Estamos, de fato, no período histórico da confirmação das mudanças. Tudo o que antecedeu este século irrequieto serviu como uma ponte construtora. Dá sustentação. Todos os processos alcançaram maturação necessária para, neste primor tecnológico e inovador, vir à tona. Ganhar corpo e forma. O progresso é incessante, vai obsoletando tudo por onde põe seus pés, com um poder inapelável.

No lado positivo da moeda desta revolução de ideologias, posso citar a queda de preconceitos de raízes profundas, firmadas historicamente. Atualmente há a meritocracia. Se alguém tocasse nessa palavra como metodologia de vida há algum tempo, seria decapitado em praça pública. Realmente o homem é um ser evolutivo. Evoluir é uma capacidade inerente e “ativável”, por qualquer um. Seria formidável se todos os espécimes acreditassem nessa verdade. Ou não... Talvez nem todos possuam este altivo, mas propulsor mérito.

As mulheres vivem o século dos sonhos. Emanciparam-se. Libertaram-se das rédeas férreas do preconceito e da suposta inferioridade aos homens em vários âmbitos. A mulher do século XXI despoja-se de todo empecilho, vira o rosto para o que não lhes agrada e franze o cenho perante as atividades domésticas. Elas estão se descobrindo, rejeitando qualquer rótulo de fragilidade. Alcançam todos os campos profissionais. Utilizam sua sensibilidade e seu senso de organização superiores, sobrepujando os garbosos marmanjões, acomodados em seu leito, com o vencido título de superioridade por sobre os olhos, tapando-lhes a visão. Geralmente é assim: a pusilânimismo deixa pra trás, faz comer poeira.

Eu estou com um desconforto. Olho à minha volta e vejo o contraste do relapso dos meus colegas com o esforço e dedicação das meninas; o atual governo do estado é feminino; a Dilma estraçalhou o Serra, que teve muitos votos “roubados” pela Marina no primeiro turno. Tem mulher advogando, jogando futebol, fazendo as compras do final de semana, pagando o jantar e delegando. Sim, delegando. Os dois cargos de delegado vagos na Delegacia de Polícia e na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento, ambas de Camaquã, são ocupados pela magia e beleza do sexo feminino. Aliás, elas tem a aptidão de perpassar essas características marcantes ao recinto por onde passam... como flores primaveris exalando seu perfume. Já fui alvo de piadinhas infames no trabalho, por uma mulher. Antes elas eram mais comedidas nesse aspecto. Foi algo do tipo: “A presidente é mulher, a governadora ainda é uma mulher, duas delegadas... e ainda tem mais a tua namorada. Nós estamos tomando conta heim...”

O incômodo que senti não deve-se a um preconceito latente, é por ser novidade... uma novidade revolucionária. Vai causando estranheza aos olhos dos mal-acostumados e simultaneamente descortina um novo horizonte, mais justo por sinal. Todo homem de verdade reconhece o valor de uma mulher, porque pra ser este tipo de homem, precisa ter sentido o calor dos lábios femininos, quentes e luminosos como os raios do sol, passando brilho e vida a tudo que atingem.

Depois desta percepção realística, constatei a veracidade de um mantra popular: A justiça tarda mas não falha. Desfrutem de seus méritos, queridas mulheres. Vocês merecem. Mas não sejam tão cruéis conosco, mesmo com sua pujança elevada, nós sabemos que vocês não sabem viver sem nós.

domingo, 21 de novembro de 2010

A Gente Tenta De Novo

Os tempos são outros. A impressão é que estive vivendo em um transe, no entanto completamente lúcido e consciente, e de repente, boom! Eu acordo com barba na cara. É... o tempo passa, e isso não é apenas um chavão estereotipado que frequentemente ouvimos. Trata-se da maior lei da vida: a mortalidade.

Quando acordo a perspectiva é radicalmente distinta. Olhar programas infantis não me parece mais agregador, por mais que me possa parecer ligeiramente lúdico. As pessoas fazem o mundo correr, constroem uma azáfama irresistível (ou inapelável). Não há possibilidade de objeção, a correnteza simplesmente empurra. Assim que funciona.

Pois bem, no meio da adolescência as mudanças começam a serem olhadas com outros olhos. De apenas percebidas passam a ser assimiladas. (Embora isso seja subjetivo, algumas pessoas assimilam-nas apenas depois de décadas).

A palavra maturidade transforma-se em ponto chave. É isso que é exigido. O ensino médio é mais frio, as relações mais distantes e a necessidade de arranjar um emprego torna-se latejante à maioria.

Tudo na vida possui dualidade, os caras inteligentes olham os dois lados da moeda. Talvez o teu maior defeito seja tua principal qualidade. A minha famigerada inconstância é a responsável pelos meus maiores feitos. Exemplificando, é assim como a demasiada inquietação do meu pai. O cara é elétrico, topa qualquer parada, resolve qualquer litígio, um legítimo pau-para-toda-obra. O seu Lauro é meio lacônico às vezes, em contrapartida, é extremamente persistente.

Sempre fui perfeccionista, o lado bom disso é uma obviedade, o ruim é que eventualmente aparece o medo de errar, de não ser o melhor possível. Só que chega um ponto em que arriscar se torna inadiável para a obtenção de um progresso de verdade. E se você falhar e não morrer, isso não foi um erro, e sim uma segunda chance.

Eu estava com o dom de observar (e perceber) aguçados. Pois bem, enquanto devaneava sobre como iria enfrentar essa fase de mudança, afirmação, e busca pelo primeiro emprego, uma insegurança receosa eclodiu em mim. Resolvi saber o que o senhor incansável acharia a respeito. Chamei-o de Bombril e perguntei como ele sabia fazer tanta coisa, ele disse que determinação é o mais importante. Contemporizei: Mas e se não der certo, pai?

- Aí a gente tenta de novo.

Essas simples palavras abriram uma perspectiva inovadora, ousada e destemida em mim. É tão verdade que até fiz esse texto para te mostrar que teu maior exemplo pode estar ao teu lado, dentro da tua casa. Procurar no exterior é uma mania comum, e sendo comum, geralmente é oca. Fica a dica.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Seu Miguel e Suas Histórias - Infância

Capítulo 1

A infância que não fica burilada na memória do vivente não foi infância de verdade. Eu me lembro da minha com uma clareza hígida. Não olvidei das minhas teorias juvenis: “A infância é determinante na vida de todo homem. Nela e na adolescência que ele tende a descobrir muito de si mesmo, e desenvolverá isso nos anos subseqüentes. As coisas que ele se apega e edifica nessas fases da estada terrena provavelmente estarão unidas a ele durante toda sua vida.” Um pouco exagerado talvez, mas há uma boa dose de verdade.

Minha época pueril teve tudo que uma criança de verdade necessita, e que, infelizmente, não se faz presente nos tempos robóticos nos quais vivemos.

Eu corria na rua com o Carlinhos, com o Pedro, com o Lucas, com a Maria, e com a Gabriela. Ah, com a Gabriela... Jamais me esquecerei da menina mais disputada da vizinhança. Porém essas lides não vêm ao caso neste momento... Chegava em casa com os joelhos mais ralados que os Estados Unidos depois que perderam a hegemonia de produção econômica na América. Tenho abissais dúvidas se isso foi tão bom assim pro Brasil. Eu gostava do Brasil de antes. Dos anos 10, 20... um país emergente, esperançoso. Hoje somos arrogantes, com o foco muito estagnado. É como se tivéssemos perdido nossa essência. Nem o Carnaval tem mais tanta repercussão. É engraçado: há metas que perseguimos por uma vida inteira, e quando beijamos o apogeu, parece que todo o pungente significado da vitória enferruja. Coisa estranha. Coisa sem explicação.

Antigamente as crianças pulavam os muros pra pegar a bola que – sem querer – caía no pátio vizinho. Hoje em dia elas chutam as bolas nas paredes da casa, ou mais provavelmente, do apartamento. Aliás, a situação de maior adrenalina de minha existência foi quando o tio Jorge, um sujeito de 2 metros de altura por 1 de largura me pegou em seu pátio, além de tudo o mostrengo ainda era míope e me confundiu com um dos ladrãozinhos do bairro. As palmadas tênues da minha mãe me fizeram rir da história, por mais que minhas pernas tremem em lembrá-la. Até o hoje. Ta, até hoje não. Afinal, o tempo cura todos os estigmas, não é isso que proclamam?

Seu Miguel e Suas Histórias - Prólogo

Ter me formado em História me proporcionou uma ótica bem razoável do homem. Ele nada mais é do que uma esponja, que vai absorvendo as coisas à medida que as vai vivenciando. Deve-se a isso a minha polêmica afirmação nas tonitruantes reuniões boêmias com meus amigos. Um homem verdadeiramente sábio, assim o é, por ter experimentado as mais diversas situações. Vejam o meu exemplo, sou um espécime perfeito disso.

Esse ser evoluído, já com o cunho de sapiens ao cubo, não passa de um mero reflexo do seu habitat, e dos adágios que o circundam. Não se fazem mais homens como antigamente. Nos tempos atuais a vasta maioria deles está imersa em sua abissal lucidez. Se um deles tentar respirar por um instante, será ultrapassado, obsoletado. Não se permite o ócio: o mais belo e albuminoso momento, e quando é proporcionado – por uma providência divina – o aproveita canhestramente. A arte é fruto do ócio bem exaurido. Por isso que só há pragmatismo... o tempo ruge. Quando dei essa análise previdente à minha professora do extinto segundo grau, no ano de 2010 – se minha memória não me trai – ela não acreditou, e fui taxado de exagerado.

Agora, em 2051, enquanto as águas do aqüífero guarani se obliteram, eu solapo algo assaz a exterminar com esta sede corrosiva. Já sorvi, no mínimo, dois litros de café e nada adiantou. Confundimos a sede da alma com a fome do corpo. Infelizmente depois que a Carmem se foi, ambas se acentuaram. Mas, como aconselha qualquer filósofo de araque, é a vida. Sim. O pior é que esse infeliz está tapado de razão.

Meus netos me consideram o mais inconseqüente dos insanos, vêem-me como um dissoluto, já que sou amante do aconchego do meu lar. Depois que a tecnologia me aposentou juntamente com minhas crônicas e com o jornal, virei um velho saudosista e nostálgico. Possuo um Grand Cânion no meio do peito, quero uma máquina do tempo mais efetiva que minha imaginação. Quero tanger minhas veleidades. Mas, quando há o impossível de fato, temos que transformar o alcançável no melhor possível. Mesmo ele parecendo não suficiente.

No entanto, há também as flores, é verdade. Sempre há.

Seu Miguel e Suas Histórias - Introdução


Depois de certa idade, o mais interessante da vida é ouvir rock and roll das antigas, dedicar-se a uma diletante quase literatura e comprazer-se com a melhor bebida de todos os tempos: o café. Juntos a mim, apresento-lhes meus companheiros fiéis: Sr. Saudosismo e a Sra. Nostalgia. Pediram-me que eu lembrasse a vocês de sua exigência: os pronomes de tratamento senhor e senhora antes de seus respectivos nomes, já que eles só existem de verdade quando estão ao lado de quem tem uma idade avançada. E por isso prezam por respeito e garbo com as palavras, assim como eu, aliás.
Meu cabelo desgrenhado é proposital, caso você esteja pensando o contrário. Só existem duas coisas que o tempo não é capaz de suprimir: meu estilo e minha originalidade. Mostrarei a vocês, e hão de convir comigo.