segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Seu Miguel e Suas Histórias - Infância

Capítulo 1

A infância que não fica burilada na memória do vivente não foi infância de verdade. Eu me lembro da minha com uma clareza hígida. Não olvidei das minhas teorias juvenis: “A infância é determinante na vida de todo homem. Nela e na adolescência que ele tende a descobrir muito de si mesmo, e desenvolverá isso nos anos subseqüentes. As coisas que ele se apega e edifica nessas fases da estada terrena provavelmente estarão unidas a ele durante toda sua vida.” Um pouco exagerado talvez, mas há uma boa dose de verdade.

Minha época pueril teve tudo que uma criança de verdade necessita, e que, infelizmente, não se faz presente nos tempos robóticos nos quais vivemos.

Eu corria na rua com o Carlinhos, com o Pedro, com o Lucas, com a Maria, e com a Gabriela. Ah, com a Gabriela... Jamais me esquecerei da menina mais disputada da vizinhança. Porém essas lides não vêm ao caso neste momento... Chegava em casa com os joelhos mais ralados que os Estados Unidos depois que perderam a hegemonia de produção econômica na América. Tenho abissais dúvidas se isso foi tão bom assim pro Brasil. Eu gostava do Brasil de antes. Dos anos 10, 20... um país emergente, esperançoso. Hoje somos arrogantes, com o foco muito estagnado. É como se tivéssemos perdido nossa essência. Nem o Carnaval tem mais tanta repercussão. É engraçado: há metas que perseguimos por uma vida inteira, e quando beijamos o apogeu, parece que todo o pungente significado da vitória enferruja. Coisa estranha. Coisa sem explicação.

Antigamente as crianças pulavam os muros pra pegar a bola que – sem querer – caía no pátio vizinho. Hoje em dia elas chutam as bolas nas paredes da casa, ou mais provavelmente, do apartamento. Aliás, a situação de maior adrenalina de minha existência foi quando o tio Jorge, um sujeito de 2 metros de altura por 1 de largura me pegou em seu pátio, além de tudo o mostrengo ainda era míope e me confundiu com um dos ladrãozinhos do bairro. As palmadas tênues da minha mãe me fizeram rir da história, por mais que minhas pernas tremem em lembrá-la. Até o hoje. Ta, até hoje não. Afinal, o tempo cura todos os estigmas, não é isso que proclamam?

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