João Arthur
João Arthur era um bom rapaz. Talvez um pouco desalinhado; afoito. Norteava suas ações através de seus ímpetos e tinha profunda ojeriza em conter impulsos e refrear instintos. Era chamado de sincero por uns, e de impulsivo por outros.
Não é possível discernir ou julgar quem possuía a crítica correta a respeito do João Arthur. Pois tudo varia em consonância com a situação, e mais do que isso: tudo depende do ponto de vista.
O principal: João Arthur tinha problemas. Muitos problemas. Aliás, quem não os tem? O fato é que com ele era – digamos – diferente. O fator primordial era a sua ânsia por realizar tudo o que, fertilmente, sua imaginação produzia. Se ele considerasse uma mulher bonita, instantaneamente interpelava-a, alvejando-a com adjetivos e descortinando suas intenções. Era um estardalhaço... Se alguém lhe ofendia, no mesmo momento esse ultrajante estaria sujeito a receber um pontapé ou um murro do lado do ouvido. E ainda: Se ele quisesse algum objeto que não tivesse dinheiro para comprar, roubar-lhe-ia se necessário fosse. Assim ele procedia. Precisava saciar suas veleidades, e a única maneira que encontrava para isso, era trazê-las à tona. Necessitava satisfazer seus desejos e cogitações.
Era um empreendedor nato esse João Arthur, porém um tanto exagerado e inoportuno.
Obviamente, ele acostumou-se a quebrar a cara. Agia mais do que pensava. No entanto, jamais se sentiu sufocado por incertezas, sempre pôs tudo à prova e à execução. Ele, realmente, prefere arrepender-se do que fez, não do que deixou de fazer – apesar de raramente se arrepender.
Só que, de tantos tombos, João Arthur foi “amadurecendo” sua personalidade, contornando-a e moldando-a de acordo com os padrões sociais, os quais advertem implicitamente que o bem sucedido não possibilita todas as cogitações, mas cogita todas as possibilidades. Talvez seja esse o segredo para se encaixar de forma harmônica e inteligente no meio em que se vive.