A melhor das dúvidas
Há aqueles que perseguem a tepidez e a tranqüilidade da certeza. Mas será que há os que se sentem confortáveis e harmoniosos com a dúvida?
No fundo, talvez, todos rumamos ao fim esclarecedor, que não permite brechas ousadas onde impera a incerteza. É um processo natural. Possuímos um mecanismo movediço às resoluções e ao porquê de tudo. Necessitamos pôr fim às torturas das dúvidas e descobrir, invariavelmente, se é ilusão ou se há um quê de verossimilhança.
Aquele que persegue de forma contumaz sua ilusão, segue nesta linha para checar se existe razão em sua alucinada jornada. Geralmente esta busca é feita imperceptivelmente. E na esparsa maioria das ocasiões, culmina onde ansiava-se chegar, e, ao mesmo tempo, receava-se.
Almejamos saber se aquela pessoa realmente é o que aparenta; precisamos ter conhecimento sobre todos os nossos resultados; não suportamos protelações quando o nosso umbigo está sob o crivo implacável da avaliação alheia; angariamos certeza sobre tudo e todos, enfim. Ou seja, nada escapa da nossa ferramenta de avaliação, onde – muitas vezes – formulamos definições precipitadas e imaturas.
É... Nós, humanos, não fomos concebidos para satisfazermo-nos com o campo cruel e fértil da imprecisão. Nossa imaginação castiga tal feito. Somos curiosos inatos.
É reconhecido, portanto, que tendemos à exterminação dos provocantes pontos de interrogação que nos envolvem – embora nos arrependamos eventualmente. E é justamente este o dilema que me aflige e acomete neste momento; excita minha imaginação; fertiliza e inventa peripécias surreais; exacerba de tal maneira que já não distingue a “realidade verdadeira” e a “realidade fictícia”. Entretanto, é a única, ou uma das poucas dúvidas, que é prazerosa de sentir, em que pese a bagunça mental que fomenta.