quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
Há coisas que naturalmente precisam estar balanceadas. Alinhadas. Quando, por descuido ou mero acaso, destoam, geram consequências nefastas. O ideal é que haja uma relação de paridade entre ação e reação.
Certa vez conheci a história de dois jovens namorados. Amavam-se muito, segundo ambos. A garota era morena e tinha belos olhos claros, variáveis de acordo com a luminosidade do dia. O rapaz era discreto, malandro. Não era belo, mas mesmo assim, havia mil garotas a fim, diria o grande Humberto Gessinger. Constituíam aquele estereótipo perfeito de casal jovial... Eram bonitos juntos, exalavam sintonia, demonstravam sua tenaz paixão através dos quentes beijos em público (por vezes tórridos, inclusive). Complementavam um ao outro. Namoraram fielmente por mais de um ano, mas posteriormente ao período inicial de puro fascínio e ausência de defeitos, eis que uma diferença tornou-se conflitante: Ela falava demais. Expunha-se demais. Ela dizia te amo no telefone, te amo ao sair do carro e te amo ao amanhecer. Sussurrava as mesmas palavras nos momentos íntimos, e não as olvidava nos frequentes bilhetinhos provocativamente perfumados. Ele, por sua vez, meio taciturno, raramente externava suas recônditas razões. Resultado: Ela enfastiou-se dessa rotina unilateral. De ida sem volta. Contou a uma amiga que negatividades que vão sendo postergadas, gradativamente desgastam. A amiga considerou este um motivo besta, insuficiente para pôr fim em algo tão bonito. Mas, infelizmente para ele, não foi.
Outro exemplo, drasticamente diferente do primeiro, é a carga tributária brasileira. A mais altiva do planeta. Pagamos impostos exuberantes e o retorno... bem, o retorno é insignificante, ínfimo. Tão irrisório que gera revolta naqueles que pensam sobre a pauta. O justo seria nós, brasileiros, termos as melhores escolas, o mais eficaz sistema de segurança e o melhor sistema de saúde pública. Já que tão alto pagamos, igualmente alto deveríamos receber em troca. No entanto, a prática nós sabemos como funciona...
Comumente provamos o gosto amargo de uma não retribuição. Quando não recebemos resposta àquele pedido decisivo. Quando sorrimos e vemos na outra face uma expressão gélida, ou muitas vezes, uma mera inexpressão. Quando nossos filhos cospem no prato que expugnaram a fome. Quando ajudamos alguém a se reerguer e não ouvimos o singelo obrigado. Ou quando priorizamos quem nos vê como prosaica opção.
Enfim, exemplos saltitam com uma facilidade espantosa. O que todos eles possuem em comum é a unilateralidade, que independente de sua origem - seja ela descuido, acaso, indiferença ou egoísmo -, causa efeitos danosos. Por isso, tome cuidado caso você não costuma retribuir. Não faça como o ingrato Ronaldinho Gaúcho; que não valoriza quem muito lhe deu.
Geralmente colhe maus frutos quem prefere transformar um caminho mútuo em uma via unilateral.
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